Seminário Afromineiridades foi aberto no dia 16 na Biblioteca Pública Estadual

No evento Dia do Patrimônio — Afromineiridades: diversidade e cultura negra em Minas Gerais; palestra da professora Leda Martins explanou sobre os reinados em Minas e no Brasil

As comemorações do Dia do Patrimônio — Afromineiridades: diversidade e cultura negra em Minas Gerais foram abertas oficialmente no dia 16/11, no auditório da  Biblioteca Pública Estadual, na praça da Liberdade, com a palestra “O pensamento banto em Minas Gerais: os reinados”, ministrada pela professora de literatura afro-brasileira Leda Maria Martins.

Até o dia 20, o Seminário Afromineiridades: Diversidade e Cultura Negra em Minas Gerais, reuniu, além de palestras, mesas temáticas, rodas de conversa e apresentações culturais em vários espaços do Circuito Liberdade. O evento foi promovido pela Secretaria de Estado da Cultura e Turismo (Secult-MG), por meio do Iepha-MG, e correalizado pela APPA — Arte e Cultura.

Neste ano, excepcionalmente, em função do cumprimento das normas eleitorais, o Dia do Patrimônio, normalmente comemorado no dia 17 de agosto — uma homenagem ao jornalista Rodrigo Melo Franco de Andrade, primeiro diretor do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), hoje Iphan — foi celebrado junto à Semana da Consciência Negra. “Esse é um tema muito caro ao patrimônio”, afirmou Marília Palhares, presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG).

“Nada mais oportuno do que celebrar o Dia do Patrimônio com o Afromineiridades, um programa de proteção da cultura afro em Minas instituído pelo governo estadual, cujo objetivo é compreender  e reconhecer as riquezas e contribuições dos grupos de matrizes africanas na formação de nossa identidade”, salientou Marília. Essas contribuições, segundo ela, são numerosas e vêm de diversas manifestações: dos saberes, da música, da dança, das artes plásticas, das celebrações, dos lugares, dos ofícios e das formas de expressões etc. 

Marília destacou que o programa Afromineiridades está dividido em quatro eixos. O mais importante, enfatiza, é a inclusão de pessoas que vivenciam a cultura negra nas ações de governo. Ela lembrou ainda que um grupo de trabalho foi instituído e deve começar atuar para dar um norte no desenvolvimento de ações de preservação com participação da comunidade negra. O outro eixo que a presidente do Iepha-MG destaca são as ações de salvaguarda do patrimônio através do ICMS Patrimônio Cultural, que têm alcançado ótimos resultados. 

Débora Silva, gerente de Patrimônio Cultural Imaterial do Iepha-MG, explanou sobre a programação do evento. A intenção do seminário, destacou, foi fugir da ideia consolidada hoje do tripé das três raças e pensar em uma cultura africana como centralidade das manifestações das matrizes afro-religiosas. “É, de fato, uma perspectiva afro centrada, pensando nas diásporas africanas, dos negros que vieram forçadamente para o Brasil, essa virada de chave, para compreender nosso patrimônio cultural sob uma perspectiva contra-hegemônica”, acrescentou,

Débora Silva entende que a sociedade brasileira, mineira, foi construída pela presença negra, e embora decorrente do que não se pode esquecer, que é o processo de escravidão, não se pode nem deve centralizar toda a produção negra nesse contexto. “Esse passado escravocrata é um dos componentes de nossa trajetória e se reflete na religiosidade, no cinema, na black music, no hip hop”, ressaltou. A programação continou à tarde com mesa temática com as perspectivas contra-hegemônica e rodas de conversa sobre performance e musicalidade.

Xavier Vieira, presidente da APPA Cultura e Arte, considera uma honra a APPA estar envolvida em um programa tão relevante socialmente, historicamente e culturalmente como o Afromineiridades. “É necessário resgatar esses aspectos difundidos principalmente pelas minorias no Brasil, e que são partes estruturantes de nossa formação enquanto sociedade, nação, e altamente contribuidores para nossa diversidade cultural tão forte e admirada no planeta. E enfatizar a gratidão ao Iepha-MG e à Secult por proporem temas tão relevantes”.

ABERTURA

Na palestra, a professora Leda Maria Martins dissertou sobre o pensamento banto (ou bantu), termo utilizado para se referir a uma língua que deu origem a outras no centro e sul do continente africano e utilizada por vários grupos étnicos. Ela dedicou sua explanação a dois princípios do pensamento banto: a sacralidade e a ancestralidade, para mostrar que não há uma única cultura negra, mas várias. E defendeu a preservação dos reinados, que no passado foram centros de resistência à colonização e à Igreja Católica. 

Leda lamenta que existam poucos relatos da história dos reinados e congados e suas resistências às normas escravagistas. “Fazer parte do reinado me ajudou a superar o racismo estrutural”, reconheceu. 

Foto: Poly Acerbi