Palácio da Liberdade terá encenação da Paixão de Cristo neste sábado (23)

Intervenção teatral “A Via Dolorosa e a Anunciação da Semana Santa”, do Grupo de Teatro do Oprimido Monte das Oliveiras, de Alpinópolis, traz fragmentos da peça “O Caminhante e a Paixão”, com questões sociais do cotidiano e passagens bíblicas

O Palácio da Liberdade recebe neste sábado (23/3), às 16h, a intervenção teatral “A Via Dolorosa e a Anunciação da Semana Santa”, composta de fragmentos da peça teatral “O Caminhante e a Paixão”, que será encenada pelo Grupo de Teatro do Oprimido Monte das Oliveiras em Alpinópolis. Esta é a segunda apresentação que o grupo faz em Belo Horizonte: no ano passado, a trupe estreou no palacete da Praça da Liberdade trechos do espetáculo “Crônicas da Paixão”.

A intervenção no Palácio está estruturada em três momentos: cortejo, Pai Nosso em crônica social e encenação de Pietá. Vinte e cinco dos cem integrantes do grupo teatral – formado por atores amadores e residentes da cidade mineira – representarão personagens como Jesus, Maria, ladrões, apóstolos e guardas romanos. Durante 30 minutos, o público assistirá a passagens bíblicas relacionadas à Via Dolorosa, nome dado ao caminho em Jerusalém que Jesus percorreu no dia de sua crucificação e morte.

O espetáculo começa com um cortejo pelo tapete vermelho estendido em frente ao Palácio da Liberdade. O cenário é simples: uma grande cruz. Durante o cortejo, o grupo faz uma pequena parada para o rezar o ‘Pai Nosso’ em crônica e encerra a encenação com a cena de Pietá, referência explícita à famosa escultura de Michelangelo, quando a Virgem Maria recebe o corpo de Jesus morto, após a crucificação. Uma narradora, que permeia todo o espetáculo, revela Maria como mãe e mulher.

Referências e crítica social

Segundo José Geraldo da Silva, conhecido como Zgé Geraes, um dos fundadores e coordenador do Grupo Teatro do Oprimido, o espetáculo é também inspirado no filme “Lisbela e o Prisioneiro”, uma adaptação da obra homônima do escritor Osman Lins. “Nossa peça é quase um auto”, define. Para trazer elementos contemporâneos, a trilha sonora é diferenciada e traz, além de músicas tradicionais, trilha da série “O Senhor dos Anéis” e de jogos online.

“Nossa proposta é mesclar referências, inclusive religiosas, não só baseando no Cristianismo”, salienta Zgé. Desde a fundação, em 1983, o grupo de Alpinópolis adota a metodologia de trabalho do teatrólogo Augusto Boal, que reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais, segundo o próprio dramaturgo, para transformar o espectador em sujeito atuante, em transformador da ação dramática. Boal, por sua vez, foi influenciado pelo educador Paulo Freire.

Por esse motivo, em todas as encenações as temáticas sociais se conectam às religiosas. Em anos anteriores, a Paixão de Cristo tratou de assuntos polêmicos como as queimadas e a situação dos povos originários oprimidos pelo garimpo, de questões raciais, da intolerância religiosa e do Apocalipse, em uma conexão com a pandemia de Covid-19. Neste ano, o grupo utiliza o personagem caminhante, andarilho, para propor uma reflexão sobre a discriminação social.

“A exemplo da encenação do ano passado, ‘Crônicas da Paixão’, que falamos do Apocalipse, queremos fazer agora uma crítica aos valores de nossa sociedade. Também propomos quebrar a polarização entre amor e ódio, que orientou a política nas últimas eleições”, explica o coordenador do Grupo de Teatro do Oprimido Monte das Oliveiras. “Muitas das questões que tratamos desde 2017 ainda permanecem na nossa sociedade”, acrescenta.

Livro e documentário

Em 2023, o Grupo de Teatro do Oprimido comemorou os 40 anos de construção do Monte das Oliveiras, um palco ao ar livre da encenação em Alpinópolis, a exemplo de Nova Jerusalém, em Pernambuco, e os 20 anos do Grupo de Teatro do Oprimido. Às 14 horas deste sábado, antes da encenação no Palácio, será lançado o livro “GTO Monte das Oliveiras – 20 Anos de Paixão”. O grupo também foi contemplado recentemente com recursos da Lei Paulo Gustavo para realizar um documentário.

Zgé Geraes afirma que a inclusão da “Anunciação da Semana Santa” no nome da peça é porque, no final da encenação, o elenco convidará o público a participar das celebrações nas cidades históricas, que faz parte do Projeto Minas Santa, do Governo de Minas, que promove e unifica as atividades religiosas nas cidades mineiras durante a Semana Santa e, em especial, convocará a todos para marcar presença na Paixão de Cristo de Alpinópolis, nos dias 28 e 29 de março.

Em 90 mil m² da cidade do Sudeste de Minas, foi erguida uma estrutura inspirada na Jerusalém do “Velho Testamento” com 30 monumentos, entre eles o Calvário, o Palácio de Herodes, a Fortaleza Antônia, o Santo Sepulcro, a carpintaria de José, a gruta onde nasceu Jesus, o Caminho da Judeia e a mesa da Santa Ceia. Tudo – muros, monumentos, caminhos e pórticos – foi construído com pedras da região. Uma das edificações inclusive abriga hotel para os visitantes.

A visitação e a programação educativa/cultural do Palácio da Liberdade contam com patrocínio master da Copasa, realização do Governo do Estado de Minas, por meio da Fundação Clóvis Salgado e do Circuito Liberdade. A correalização é da APPA – Arte e Cultura, por meio de Termo de Parceria firmado em 2023.

Serviço

Intervenção teatral “A Via Dolorosa e a Anunciação da Semana Santa”. Palácio da Liberdade. Dia 23/3 (sábado), às 14h, pré-lançamento do livro “GTO Monte das Oliveiras – 20 anos de Paixão” e, às 16h, intervenção teatral “Via Dolorosa e a Anunciação da Semana Santa”. Gratuito. 

Fotos: GTO Monte das Oliveiras / Divulgação