Lendas urbanas, obras de arte e espaços secretos compõem as muitas histórias do cartão-postal
Inaugurado em 1898, época da construção de Belo Horizonte, o Palácio da Liberdade é um dos principais cartões-postais da cidade. Residência de governadores por várias décadas, o palacete de arquitetura eclética agora é um centro cultural aberto à população. Os portões estão abertos de quarta-feira a domingo para o morador e o turista descobrirem sua história e, por consequência, a história da capital mineira.
O monumento também guarda muitas curiosidades em seus aposentos e nos detalhes arquitetônicos. Pouca gente desconfia, por exemplo, que o Palácio recebeu influências direta do Iluminismo, o movimento intelectual e filosófico surgido na França e que se espalhou pelo mundo no século XVIII, e que sua construção resultou em uma lenda urbana passada de boca em boca ao longo do tempo.
Nesta matéria, selecionamos algumas dessas curiosidades para você descobrir o Palácio da Liberdade de uma maneira diferente e estimular seu interesse em conhecê-lo.
- Uma escada desmontada
A escadaria principal é de design belga e foi produzida na Alemanha. A obra de arte apresenta uma tecnologia avançada para a época chamada de técnica Joly. Isso significa que a escada é composta por diversas peças separadas, que foram montadas em conjunto até formar a estrutura da escadaria, que, por sua vez, faz parte da sustentação do piso de cima do Palácio.
- O “andar secreto”
Na visita mediada, o visitante entra pelo saguão, sobe a escadaria e chega ao hall. Depois, vai para o salão do banquete. O mediador explica que os visitantes estão no terceiro andar. E onde estaria o segundo andar? Há um espaço secreto entre o primeiro e o segundo andar, onde a criadagem circulava e onde está a cozinha. Isso está também retratado no quadro “O Brinde”, na Sala do Almoço. A pintura mostra a membros da comissão construtora brindando a inauguração da capital e, ao fundo, um garçom. Sabe-se o nome de todas as pessoas retratadas na obra, menos do garçom, revelando as diferenças sociais da época.
- A visita dos reis da Bélgica e o Quarto da Rainha
No dia 2 de outubro de 1920, Belo Horizonte recebeu o casal Alberto e Elizabeth, reis da Bélgica. Essa foi a primeira viagem de um monarca europeu ao Brasil depois da Proclamação da República. Os reis passaram três dias em Belo Horizonte e se hospedaram no Palácio da Liberdade, que foi parcialmente reformado e ganhou novas decorações e móveis para recebê-los.
- O Mistério da Pintura Substituída
Uma pitoresca lenda urbana circunda a pintura do artista Antônio Parreiras no Salão Nobre, alegando que ela substituiu uma obra anterior. Segundo a lenda urbana, o quadro foi trocado, a pedido de um governador que não gostava da presença de uma suposta caveira no desenho. A trama revela o gosto dos governadores pela decoração, cada um deixando sua marca no Palácio, influenciando inclusive as escolhas artísticas que adornam suas paredes.
- Decoração de papel?
Alguns dos tetos do Palácio da Liberdade são feitos a partir de uma técnica simples mas muito rebuscada, que é o papel machê (palavra originada do francês papier mâché, que significa papel picado, amassado e esmagado). Original de 1989, o teto do hall de entrada do Palácio é feito dessa mesma técnica.
- Uma Europa aqui
A decoração do Palácio tece laços com o lema da Revolução Francesa, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, refletindo o espírito da época. A decoração do Palácio da Liberdade também segue as mais tradicionais regras da decoração européia daquela época. O piso em parquet é uma inspiração nórdica; os vasos e porcelanas decorativas, de países asiáticos; no mobiliário prevalece o estilo Luís XV. Os vidros das janelas são de cristal importado trabalhado; e as pinturas fazem alusões à mitologia grega.
- Lema dos inconfidentes
No hall da escadaria principal, no teto decorado tem pinturas do artista alemão Frederico Antônio Steckel, que representam: Liberdade, Fraternidade, Ordem e Progresso, além da claraboia que ilumina todo o saguão de entrada, com o lema dos inconfidentes inscrito “Libertas Quae Sera Tamen”.
Fotos: Poly Acerbi, Isadora Tameirão e Iepha/MG